O que é a verdade do nosso ser? Às vezes a vida faz-nos pensar nisso, outras vezes descobre-se isso vendo a vida dos outros. Hoje foi por causa de o outro que era eu, que é assim que se chama um livro do Ruben A. e é assim que eu o sinto cada vez que me abeiro de um livro seu. Consegui ler mais umas folhas de O Mundo À Minha Procura, a auto-biografia. Comecei pelo volume segundo, talvez pela ideia que só vale a pena conhecer o que é quando passou a fase de estar a ser. Dei com ele a «lutar contra ser peludo, mal saibrado por uma natureza em que decerto havia muito mimo», ele «sempre extrovertido, animado, dador do sangue que me corria na alma, cometendo indiscrições». Vim aqui escrever isso e reler, reler para não estropiar o dito pelo modo de dizer. Solene, apesar de duas vezes ter escrito a palavra «ele». Não se diz «ele», jab. Eu sei. Foi só desta vez. Estou com preguiça de emendar. Esta sim, a preguiça, é a natureza verdadeiramente actual do meu ser. Talvez por doer ainda um pouco a cabeça. Figuradamente, claro.