De súbito é um sentimento de pudor que toma conta de nós. Tal como os que fazem profissão de fé em nunca receberem uma condecoração, os que renegam o dito complacente e antecipadamente legitimador desta água nunca beberei. Trata-se de uma exigência que não vem dos alçapões da ética, onde crocodilos maldosos se passeiam impunes ao lado de gazelas duvidosas, é antes uma imposição da estética, o horror ao feio, que desdenta, ridiculariza, apouca.
Preso nos torvelinho das palavras, enredado nos sentimentos que as reclamam e nas confusões que elas geram, desconexo na morfologia e incapaz nas concordâncias, há um homem que no meio da livraria da vida, na labiríntica biblioteca de Babel da sua existência, decide num gesto irreflectido o seu destino. Indiferentes, no vai-vém dos escaparates e das montras, entre sobras e reposições, esgotados uns na síncope do fora do mercado, muitos outros estirando-se em reimpressões como um gato molemente espreguiçando a sua melancolia, todos esses que são o mundo de papel de um viver imaginário, assistem.
Talvez um bocejo antológico pontue a indiferença livresca dos compêndios necessários ante tudo isso, ou o ruminar impaciente de um romance denso, trágico e consagrado ou, quem sabe, uma lágrima narrativa de um conto avulso, dor de columbina poética ante o seu arlequim prosaico, talvez assim se assinale a morte ficcional do que poderia ter sido mais um na arte de escrever.