9.10.06

O reflexo do luar

Antigamente era uma cabana em madeira na areia, agora parece um bar das docas em Lisboa. Já foi um restaurante modesto de praia, agora dá-se ares de selecto lugar citadino. Já se comeu ali um fresquíssimo peixe, hoje tasquinha-se, roendo-o, um córneo bife de boi. Já houve por ali a naturalidade de ventres bojudos e peitos descaídos, casais e uma ranchadas de filhos, hoje são meninas de formas alçadas a empertigarem-se redondas para namorados quadrados. Uma só coisa ainda lá está: o mar e a luz, digo eu que só vi a negritude da noite e o reflexo do luar.

2.10.06

Rápidas melhoras

Nós hoje, os teus amigos, os teus leitores, velamos aqui, ansiosos que tu melhores, por te querermos bem. Deixamos-te flores em adjectivos risonhos, chocolates em advérbios de melhores dias, um livro da gramática do bem viver. Ao melhorares depressa, estaremos todos aqui, expectantes e felizes.

1.10.06

O processo de exclusão

Eu sou quem sou por me não negar ser o outro. Só assim o compreendo, porque eu poderia ser o que ele é. Descobri isto esta manhã. Para tanta inteligência que por aí há, isto é óbvio, foi por causa da estupidez da minha vida que eu consegui, enfim, chegar até lá. Ao chegar à rua, tentei fixar a frase, para a vir escrever. Por um triz, passava-me, confundida e baralhada: eu sou quem sou, porque o outro não sou eu. Assim, ou parecido, tanto faz, está na hora de ir lanchar. Oxalá o outro não apareça, porque só há queijo fatiado que chegue para um.