30.1.09

A alucinação nocturna

O que leva alguém a conseguir escrever? Porque sucede em alguns dias só nos existirem as palavras necessárias? Há no deserto um sono feito de desolação e de miragem. De noite sob as estrelas. Talvez sejam estes os alimentos da literatura. Na poética há a alucinação nocturna, a febre diária, as convulsões do acto criador.
Tenho um livro para devolver, que já me lembraram que no tinham apenas emprestado. Tenho de o tirar da estante com um escadote. É esta inacessibilidade que dá grandeza à: sobeja-nos sempre à vontade.
Depois ficamos triste por causa do livro não escrito e por causa do livro não lido. Só no acto de se nos formarem as palavras sentimos um breve contentamento.
Escrevo isto tudo porque o dia está a acabar. Se não estivesse muito cansado ia ler. Assim nem escrevo. Excepto isto, que é um lugar comum na obra de criação.

27.1.09

Kung Hei Fat Choy

Por não andar com a escrita a tempo e horas esqueci-me de anotar esta. Começou o novo ano chinês, que este ano é o Ano do Búfalo. É o meu ano, pois nasci em 1949, o ano em que foi fundada a República Popular da China.
Ora ao ouvir um apontamento de reportagem, creio que na Antena 2, dizia um jornalista chinês, entrevistado a propósito, que os nativos do signo correspondente ao ano, eram nesse ano muito frágeis. E eu a pensar que, ao contrário, era o ano da nossa maior fortaleza.
Mas seja! Vinha tudo isto a respeito do conselho que o dito jornalista: para dar força, o vigor necessário a enfrentar o ano que, por ser do próprio, pode ser um ano adverso, urge usar algo de vermelho. De preferência um cinto vermelho. Na falta de cinto vermelho, cuecas vermelhas. Isso mesmo, cuecas vermelhas.
Pronto, eis o que queria dizer. Este ano estou vulnerável. No momento em que na China se queimavam panchões, e se trocavam os kung hei fat choy da época, devia estar eu de cuecas cor da Revolução Cultural. Ousei enfrentar os deuses, sem cuecas! Que os demónios tenham piedade de mim com elas!