13.8.08

A vida vivida

Tal como o senhor Palomar, descobri que a vida não é cronológica mas tem uma lógica decorrente de uma arquitectura própria. Ante o novo que nos surpreende, descobre-se que toda a vida vivida surge agora diferente. Nisso os mortos, coitados deles, estão em desvantagem: o mundo que passou fica irremediavelmente fixo, como numa cena de um filme com a Vanessa Redgrave, imóvel numa interminável pausa, o encontro de duas mulheres de que uma abdicou do homem com quem a outra não casaria sequer, a dor do sacrifício inútil por um amor que é a beleza esplendorosa dos sentimentos, para além das utilidades.