De repente descobre-se que não há cebolas para um refogado que anime as pálidas lulinhas. O problema é que já está azeite na panela e alho a começar a fritar o que poderia ser um refogado. Sem cebola aumenta-se no alho, que há résteas sobejantes. Assim como há quem coma raia alhada, aplique-se às lulinhas a mesma regra, igual princípio. Para iludir, talvez dois cubos de um caldo culinário, daqueles cubos viscosos de cor ambígua, que nunca sei se são de marisco se para marisco.
Como medida de prevenção tempera-se com vinho, não da zurrapa para fins gastronómicos embalada em tetra-pack, sim do vinho de mesa, a fina e decantada essência vinícola, que tudo tinge de um manto tinto pascal e perfuma os ares de uma essência odorífera, preparando a alma do palato para o santo sacrifício da mesa.
Sento-me com veneração, um pão esponjoso a apoiar a prova com adjuvantes sopinhas.
Foi à hora do almoço. Ficou uma dose para um jantar. A refrigeração faz milagres. Ensopadinhas no insólito molho, marcham como lagostas.