31.8.08

Papel de aranha

Há uma fotografia minha, que está no blog mãe, do qual surgem todos os muitos blogs, qual mãe de água da minha escrita no éter, em que dizem ver-me com um ar caduco e triste, e velho e derrotado, zangado com o mundo e de mim farto. Mas que querem, se eu já fiz o exercício mental de me ver com outros olhos e é assim que me revejo sempre?
Há uma fotografia minha que sou eu por mim fotografado. Podia estar mais novo e talvez esteja, mais alegre e rio-me muitas vezes, menos raivoso com a vida, mas eu adoro viver.
Há um fotógrafo da minha pessoa que é mestre no a la minute da existência. Com um caixote empinado num tripé, uma manga preta onde enfio a cabeça qual cegonha de olho intrigado, o balde ao lado para a revelação do negativo, sou o olha o passarinho da minha visão das coisas e da minha própria pessoa nelas ensarilhado. Aos domingos fazemos um instantâneo. Temos um álbum de folhas pretas, com separadores em papel de aranha, cada foto pregada com cantoneiras, como nos tempos em que eu era miúdo e cada imagem de mim era uma forma de todos nos rirmos em Kodak da vida existente e da que imaginávamos existir.