12.1.08

O silêncio em permanência

Há um estranho fenómeno, talvez de envelhecimento natural, talvez de degradação patológica, que é um zumbido na cabeça, audível no silêncio e em permanência.
Imagina-se um insecto, em voo interminável pelo espaço oco da memória que se perde, uma sereia de ambulância rompendo a sua aflição pelos labirintos da imaginação.
Faz companhia, quando se irritam, azedos, connosco e nos culpam, irritados, por sermos irritantes.
Ante ele, ficamos a pensar no paradoxo, como se o víssemos, incompreensível, diante dos olhos. Depois lemos, escrevemos sobre o que se lê ou dorme-se para poder ler às escuras e escrever no vazio.
Há um zumbido que faz com que cada um sinta em si a presença de outro, esvaindo-lhe a cabeça.
Dizem que é uma questão de ouvido, ou talvez um problema cardíaco.
Um dia a Natureza tem pena e manda desligar o sinal.