9.1.08

O inesperado momento

Foi hoje, em Vila do Conde. Tinha aproveitado a oportunidade para fotografar a Vila Simultânea, onde viveu a Sonia Delaunay, por causa de um livro que estou a escrever sobre a sua pessoa. De passagem, a caminho do Arquivo Municipal, na mira de encontrar algum resto documental, cruzei-me com a magnífica Biblioteca Municipal. Um instinto fez-me estacionar.
Cheia de gente nova, alguma a surfar na Net, outra a estudar, uns a ler, um local tranquilo, a esperança de que me socorresse.
Trouxeram-me, requisitado, o catálogo que a Câmara Municipal editara, numa exposição alusiva.
Foi então que dei por por ele. Estava a meu lado, como se invisível. Sentira-me o embaraço de investigador à procura, qual Polegarzinho, de reconstituir o percurso dos miolinhos de pão de uma história. Reformado, vestido desportivamente, a ler um catálogo sobre Amsterdam.
Identificou-se, «embarcadiço», vivera em Lisboa, «passo os dias aqui». Ante o meu sim distraído, os olhos cravados no que eu lia, ciciou-me: «A criada da Sonia, que foi presa também, era da minha família». «A Beatriz?», perguntei, como se o mais natural encontro do Mundo tivesse acontecido. «Sim, é essa aí na folha que o senhor está a ler!».
Aconteceu tudo em 1916. Em 2008 o destino colocou-nos ali, no improvável lugar, no inesperado momento, ele, eu, a Sónia, a Beatriz e o sonho de um dia magnífico a acontecer.
Cheguei a Lisboa exausto de coincidências.