Há momentos inesperados na vida de um ser humano. Sabem-nos os que amanheceram com a crença inesperada numa ideia, a fé num ideal. Conhecem-nos quantos esgotaram a capacidade nocturna de se conformarem com uma mentira fria, a impossibilidade de ignorarem a lua quente de uma ilusão.
Toda esta grandeza ocorre na pequenez do ser individual, como a infinitude do cosmos num átomo de vida, o todo em tudo, o indizível no já dito.
Nesse dia em que o monje mortificado recolhe à sua cela, ou a fêmea em cio se oferece à cama, a vida floresce no seu renovar-se diferenciado, como a sequência das estações ou a maré fecunda no ventre de cada mãe.
Há momentos inesperados em que nos cruzamos com a glória do que somos e com a vergonha do que temos. Depois, fazemos por esquecer, a Natureza amiga a lançar-nos o socorro da senilidade para que descansemos, enfim, em paz.