17.8.07

Antigamente

Antigamente, quando foi tempo em que eu não dizia antigamente, a chegada do vento marcava a despedida do Verão. Os banheiros recolhiam os toldos de praia, as mães recolhiam as crianças renitentes, regressadas a casa de má vontade, os lábios roxos de frio, a hora tardia. Era o tempo da nostalgia dos amores de ocasião, o regresso preguiçoso aos livros, as noites mal dormidas acossadas pelo despontar do corpo, os adultos a conversarem na varanda, embrulhados em cobertores, a lua como testemunha. Hoje cheguei a Lisboa, a cidade revirada de vento, anunciando a chegada do Inverno, eu a dizer a palavra antigamente.