9.12.08

Ir ao Nimas

Foi um repente. Acabado o jantar, ei-la, juvenil, a ideia de ir ao cinema. Ir sim, ao cinema aqui perto, como outrora se ia ao de bairro, a apressar o jantar para se chegar a horas. Estuguei o passo, um livro debaixo do braço que não tivera tempo de folhear sequer ao jantar.
Um pouco pitosga, bem menos do que no ver ao perto - deliciosa expressão com que me entendi outro dia com a minha oftalmologista - foram ganhando dimensão e formato e sentido as letras que no Nimas anunciavam o filme. Uma por uma, enfim a frase: «Remodelação».
Fantástico título, o género de película que a minha alma descontente anda mesmo a precisar: Remodelação, isso mesmo!
Só quando vi mesmo em cima é que dei conta daquilo que, vendo ao longe, a minha vista não alcançava: «reabre em 11.12». Um saco de cimento à porta semeava, porém, a dúvida.
Pasmo de alegria. Ao menos reabre! Outro dia na Mexicana o empregado pareceu-me familiar. «Então lá se foi o nosso cinema!». Cruz na porta da Tabacaria! Morreu o Alves! Caramba! Pois era! Conhecia-o do Quarteto. Do falecido Quarteto. O cinema onde não havia lugares marcados, mas onde se marcava presença. «Para a nossa geração foi um símbolo, senhor doutor». «Foi», respondi-lhe, com a anemia de sentimentos dos anos que passam: «um carioca fraco, faz favor».