6.6.08

A vida atrasada

E eu que sou tremendamente supersticioso e que, se não consigo escrever à terceira, de modo firme e em perfeita horizontalidade, a primeira linha de uma carta - quando escrevo cartas à mão - e que vejo sinais do destino em pequenos acontecimentos banais, como neste, onde está contida uma mensagem dos deuses a dizerem, amigos e com o meu futuro preocupados: «não escrevas»?
Ora esse eu mesmo vinha, noite fora, a guiar sozinho em estrada deserta e, de súbito, «olha a Lídia Jorge!» numa entrevista na Antena 2 a dizer coisas de que nada retive se não que falava de contos que se transformavam em romances!
Naquele momento, na estação ao lado, a RFM, a estação oficial do Rock in Rio, passavam os Offspring, que são bem melhor trabalhados em estúdio do que ali na crueza de um «ao vivo»: Num apontamento de reportagem, um puto dizia a uma bem disposta entrevistadora «pessoal, não tenham medo deste país que há aqui energia para dar e vender!».
Cá está: acordei cedo e vou começar a trabalhar, cheio de energia: desta vez ainda não é num romance, é a finalizar um pequeno livro, neste computador, não vá a primeira linha sair-me torta e eu começar a manhã logo a desanimar!
Ah! Outra coisa. Estou a escrever sábado de manhã, ainda não são nove mas vou colocar data de ontem, porque foi ontem que eu vivi o que aqui está. Nisto do guardar para amanhã é que, infelizmente, não sou nada supersticioso: tenho a vida toda atrasada e o pessoal a refilar.