Hoje de manhã olhei para ele. Ali estava, paciente, à minha espera. Tinha-o comprado depois de no ano passado ter ido a São Petersburgo. Confessei então a sem-vergonha de nunca ter lido o Dostoiévski. Dedicado a redimir o erro, livro a livro fui enchendo com a sua literatura a estante e o chão circundante, as suas obras pesadas, histórias de homens densos, de figuras desesperadas, onde a felicidade é uma forma tristonha de estar em paz.
Fiódor Dostoiévski escreveu os «Cadernos do Subterrâneo» em 1864. Esta manhã entendi o que é «o direito de desejar para si até o extremamente estúpido». Acordar ums pessoa, olhar-se ao espelho e dedicar o dia à procura de tornar-se contente, evitando que a noite chegue e com ela a constatação de que não foi possível. Logo talvez vá ao cinema. Lá é sempre noite e tudo, mesmo o real, é ilusório.