15.1.07

Uma questão de imagem

Perca tempo e imagine-se como os outros o vêem. Ficará supreendido ante a imagem grotesca, caricatural, deformada, ridícula, da sua pessoa. Sofrerá com isso, pela certa. Apetecer-lhe-á chegar à janela e gritar: parem! Isso é mentira! Essa imagem é uma contrafacção! Abaixo os falsificadores! Só que o problema nem é esse. O problema, como já vem da Idade Média, é o das imagens e do venda de imagens. Hoje, com a sociedade do espectáculo, cada indivíduo tenta passar pelo que não é, vê no outro o que gostava que ele fosse. Nos olhos primeiro e na boca de muitos, somos os recalcamentos, as ambições, as fantasias das suas vidas: heróis à força, vilões por definição, seja o que for que lhes quadre. Perca tempo, imagine-se em pelota no meio da rua, um letreiro ao peito a dizer «eu não sou eu!». Não vale mesmo a pena. Fica constipado e desiludido, sobretudo com os que julga amigos e são sempre os piores algozes. Os melhores serão os que cravarem apenas alfinetes no seu retrato.