11.5.06

O redondel da vida

Vestia-se de toureiro e plantava-se bêbado à esquina de uma taberna, fazendo vénias, como se por passos de capa, num volteio demencial de dentes ratados e barba por fazer. Um domingo foi colhido. Morreu na arena de uma vida encenada, a aldeia indiferente, recolhida à sombra de suas casas. Um automóvel, desgovernado, um estrondo, e terminara-lhe, enfim, a faena. O jornal dedicou-lhe duas linhas bocejantes. O touro imaginário, a cuja morte se dedicara antecipou-se-lhe, num momento de distracção. Um fio de sangue entranhou-se na cal da parede em que se esmagou. É tudo quanto resta.