9.4.06

Amátia perféssia

Trouxe-o para casa, o primeiro disco das palavras ditas por Mário Viegas. E nele o poema «Amátia» de Jorge de Sena e nele as palavras que não existem, o português fingido do ser imaginado, da vida fictícia, do mundo irreal: «timbórica, morfia, ó persefessa, meláina, andrófona, repitimbída, ó basilissa, ó scótia, masturdília, amata cíprea, calipígea, tressa». Vivo-o impossivelmente, sinto-o de modo abstracto e evanescente, nele me dissolvo, com ele me dou sumiço. Ao findar o dia reina em mim o festejo de ter deixado de ser. Resta de mim a ideia, uma vaga ideia, a amnésia de mim, a lembrança do outro.