16.3.06

Uma ferida aberta

Foi a Maria Ondina Braga que, a propósito da descoberta do amor, intuiu que um corpo acordado é uma ferida aberta. Foi assim com a sua personagem, uma interna num reformatório. Desperta e insatisfeita, enervada então de insónias, falava desabrido e melindrava-se com tudo e com nada. Acabou despedida. Devolvida por isso, ao mundo exterior, perguntava-se se no amor dos importantes caberia lá também a mentira e a fraude. Nunca achou a tranquilidade de uma resposta. O livro chama-se «Amor e Morte». É o nome de um dos seus contos, onde numa passagem, se fala num hotel e na paixão de uma mulher por um escritor, não por ser belo ou distante, pois «a beleza gasta-se com a proximidade - mas também por lhe ter purificado as noites».