Fosse ao menos a heteronímia, ou um desdobramento de personalidade, fosse, enfim, o caso de duas pessoas que eram uma e não o de uma só pessoa dobrada em duas. Mas, assim, é este turbilhão de vários reclamando-se o espaço de um só corpo e dele alimentando a plural inquietude. Fosse ao menos um peusónimo, um cognome ou uma alcunha; fosse eu, no fundo, apenas o alias de mim. Fosse o mundo outra coisa diversa da que vive na minha cabeça, fosse a minha ilusão uma forma alucinada de viver tranquilamente. Fosse ao menos a possibilidade de nada disto me ter acontecido, nado morto ou abortado, o filho que não se chegou a gerar na mulher que se calhar o enjeitaria. Fosse isto um lamento piegas ou uma conversa de engate. Houvesse nisto a tristeza nimbada de uma lamúria, a lamechice carnuda de uma apetência. Houvesse, fosse, tivesse. Mas não há, nem é, nem tenho. Daqui a umas horas começa a rotina e com ela a linearidade ténue, o unidimensional monótono, a platitude indiferente de uma vida sempre igual.