12.2.06

A dor alheia

Uma vida ficcionada não é a que os outros julgam ser a nossa, é que a vivemos como se fosse a própria. O poeta escreve como se lhe doesse, o leitor sente sua a dor alheia. E, no entanto, a tristeza de um entardecer só existe pela melancolia de quem o vê, como a alegria de uma manhã só acontece, havendo alguém a quem contá-lo. A literatura é, pois, esta forma de, pelo que se conta, dizer. Esgotadas todas as palavras, restam ainda os pungentes silêncios. Morto o último dos leitores, renasce o primeiro dos escritores.