Lembrei-me do «porque é que se expõe?», para o qual não tive resposta. Lembrei-me porque vi há pouco mais umas de tantas gralhas com que escrevo, trocas de letras, concordâncias gramaticais erradas, frases desconexas, tudo o que deslustra quem escreve. E vi depois o que revela o contrário do mito, a antítese do herói, a pequenez vulgar do ser. Sim, ele é assim.
Há pouco recebi um telefonema: «José António, quando puderes, vamos comprar outros canários, pois os que me deste quando fiz anos, fugiram e quando passo ao pé da gaiola sinto vontade de chorar».
É isto a vida, chegando-se ao limiar da solidão, sendo-se velho e não se tendo ninguém, isto o descrevê-la, por ser verdade, dois canários bastam como ilusão.