Escreve um homem três linhas logo pela manhã do seu acordar feliz e chega-lhe insólita a noite com o eco de si por companhia. É este real amargo, que anula a esperança, situa a alegria e refreia a ilusão, aquilo a que se chama a vida. Pateta, a carta na mão, ei-lo confiando à mala postal que pesado cargueiro levará pelos mares ao longínquo além, a missiva breve. Hesita no cais. Com ela amarfanhada no bolso regressa a casa. Ao entardecer, há no horizonte o último momento da imagem de um navio a ser devorado pelo mar, no cais a sombra de um homem a ser devorado pela vida.