Aproveitando o ser feriado, como se fosse indiferente empregado por conta alheia dos que só trabalham nas horas de expediente e fecham o guichet das obrigações a horas certas e metem fim de semana e ponte e mais tolerância de ponto para terem tempo inútil para si, aqui estou, com uma nesga da Basílica da Estrela à vista, a ler a biografia do Alexandre O'Neill. O O'Neill chamava-lhe «o garrafão da água do Luso», talvez pela sua forma bojuda. Mas não foi por causa disso que eu vim aqui. É que há neste livro, que em cada folha me vai entusiasmando, um momento em que a sua autora diz que não se pode reconstituir uma vida, apenas reconstrui-la. Eu, que já escrevi sobre algumas vidas alheias, sei que assim é: inventei-me através delas, ficcionando-me no que não sou.