30.9.06

Por ninguém

Pela leitura aprende-se que grandes personagens vivem histórias banais, e que as grandes histórias são possíveis de ser vividas por gente banal. Ela vive entre o amor a um e o medo que o outro se apaixone por ela. Mas o amor surge-lhes e com isso um terrível embaraço para ambos. Imaginam-se irmãos, talvez mesmo amigos. Na hora da escolha, aquele que ela ama, leva-a. O outro, fica-se com um minuto de felicidade, a de ler a carta em que ela lhe pede que a não deixe. É assim no pequeno livro de Dostoievski que consegui ler neste dia. São três noites brancas e uma manhã, em São Petersburgo. O personagem é um triste sonhador que «perdeu o talento de saber viver a vida real»: esgota-se numa vida inteira à procura de alguém, apaixonhado sempre, no fundo por ninguém.