8.8.06

Os obrigatórios pensadores

Há quem viva do dever e da necessidade de ter todos os dias muitas ideias, imensas opiniões, variadas novidades. Logo ao acordar de uma noite em que mal dormem, é o artigo para o jornal, o comentário para a rádio, o programa na televisão, os mil livros para ler. À volta destas pessoas o mundo gira incessante e os acontecimentos sucedem a ritmo veloz. A exigência de nada lhes escapar deve ser um tormento. Tal como os seguranças ou os apresentadores da TV, imagino-os com um auricular, escondido na orelha, ligados a um ser invisível e todo poderoso, fonte de tudo quanto acontece, espécie de «régie» da total sapiência. São os escravos do saber, para os quais todo o jornal, toda a revista, todos os blogs e cada uma destas coisas, lhes não é estranha, antes local de frequência obrigatória. Depois há os livros, aquelas centenas de gregos que parecem ter escrito toda a filosofia que havia para conhecer e de que a actual não pode ser uma repetição, e há os factos, como no Médio-Oriente de todas as guerras, de que a próxima é sempre uma continuação da anterior. Ninguém lhes perdoaria uma falha de ignorância. Sentado nesta sala ainda fresca de uma casa dormente, antes de o sol subir e com ele o crestar tudo quanto viceja, com o cérebro ainda vazio, sem saber sequer o que se passa ali na rua, tenho pena dessa gente. Actores de uma comédia social, muitos são pagos para repesentarem o papel de inteligentes num mundo de estúpidos. A arrogância é só uma forma de se imporem ao mercado. Daqui a pouco chegam-me os primeiros pelos jornais, para que eu saiba o que pensar.