Eu deveria estar a dormir, porque à noite estou cansado do dia, ou deveria estar a trabalhar na minha profissão, para me cansar também das noites, ou deveria estar a fazer nada para me cansar de vez, sem ter sequer motivo. Mas não consigo. Estou a ler. Consegui acabar a primeira parte dos «Cadernos do Subterrâneo» do Dostoiévski. Leio devagar, porque me cansam os sentimentos que me ocorrem com a leitura. «Todo o homem honrado do nosso tempo é e deve ser um cobarde e um escravo». Não fosse isso, já eu me tinha liberto para aquela «inércia consciente» do eterno descanso, o momento da eternidade, em que o tempo se suspende e uma pessoa fica então definitivamente amarrada ao que passou.