12.12.10

A conjunção cósmica

Uma qualquer conjunção cósmica fê-lo levantar-se e dirigir-se à minha mesa. Pediu licença. Lembrou-me, ao sentar-se e como quem me pede desculpa, que sou «uma figura pública» e por isso sujeito a ser "conversado". Não encontrei modo de subtil de dizer que talvez sim, nem consegui modo de explicar o facto do meu embaraço conversável. Acrescentou-me que, tal como no teatro grego, eu deveria usar máscara para esconder a minha persona por sobre a outra. Depois falou muito, por uma qualquer conjunção cósmica que o trouxera à minha mesa. Lembrou o resto esquecido do verso do Camões: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, «muda-se o ser». Pediu-me que pensasse nisso. Na mudança do ser pela mudança dos tempos.
Há uma semana eu tinha estado com o meu Afonso a estudar filosofia. Tem 15 anos. Perguntou-me o que era a concepção do mundo. Era o tema do próximo exercício. Tentei, decompondo a palavra alemã "Weltanschauung", que traz os elementos necessários para que se entenda o que é a ideia de cosmovisão. Chegou lá porque dá os primeiros passos no Goethe Institut, e porque tem um pensamento lógico, que o leva a ter sido um excelente aluno em matemática.
Uma qualquer conjunção trouxe-me hoje a cosmovisão. Momentos depois acabei de ler o livro que arrastava. Ganhei coragem e sorri à vizinha da mesa do lado. E disse-lhe bom dia, para ela sorrir também.
Já na rua, chover na rua tornou-se uma forma de saudar a pujança da Natureza e a sua vitalidade, mesmo sem guarda-chuva.