23.2.07

O bilhete de ida

Nem sei como, mas compreendo porquê, consegui ler, aos poucos, o «Caderno de Lembranças» do Agostinho da Silva, esses momentos de memória sobre a sua pessoa. Chega-se ao fim e compreede-se o que eles quer dizer quando escreve que «toda a vida é curta para a vida». É por isso que, de novo nas suas palavras, «a morte e só a ida». Naturalmente.

20.2.07

O garrafão de água do Luso

Aproveitando o ser feriado, como se fosse indiferente empregado por conta alheia dos que só trabalham nas horas de expediente e fecham o guichet das obrigações a horas certas e metem fim de semana e ponte e mais tolerância de ponto para terem tempo inútil para si, aqui estou, com uma nesga da Basílica da Estrela à vista, a ler a biografia do Alexandre O'Neill. O O'Neill chamava-lhe «o garrafão da água do Luso», talvez pela sua forma bojuda. Mas não foi por causa disso que eu vim aqui. É que há neste livro, que em cada folha me vai entusiasmando, um momento em que a sua autora diz que não se pode reconstituir uma vida, apenas reconstrui-la. Eu, que já escrevi sobre algumas vidas alheias, sei que assim é: inventei-me através delas, ficcionando-me no que não sou.

18.2.07

Verdadeiramente itinerante

* Ontem descobri a terceira. A primeira está em Campo de Ourique, antes do Canas, a seguir à farmácia, perto do lugar onde caíu a granada que, disparada do Tejo, marcou a queda da Monarquia. São pelos vistos três mulheres alfarrabistas nesta cidade de Lisboa. «Há outras, mas que trabalham com os maridos ou com os pais», disse-me. E eu acrescentei: conheço outra, verdadeiramente itinerante, que não tem loja e trabalha com os filhos. Fazem todas parte desta enorme família, em que nunca se está só.